[FUGSPBR] SCO X IBM

Luiz Rodrigues Maia Neto maianeto em inf.ufsc.br
Dom Ago 3 11:15:46 BRT 2003


Bom dia, 

Historicamente, existem diversas versoes para a cronologia historica 
da criacao do TCP/IP. A ISOC conta uma versao que minimiza a 
participacao da Universidade da California. A BBN gosta muito de 
dizer que a Internet foi invencao dela, assim como o TCP/IP e a 
utilizacao do BSD Unix como plataforma operacional.

Ate onde me recordo, a DARPA celebrou tres grandes contratos para o 
desenvolvimento de versoes operacionais da suite de protocolos TCP/IP 
em 1979. outros contratos foram celebrados, mas, usualmente, estes 
sao os considerados fundamentais. 

    - A BBN (Bolt, Beranek e Newman) desenvolveu uma versao baseada no 
    DEC PDP-10 usando o TENEX;

    - O SRI (Stanford Research Institute) desenvolveu outra versao usando 
    a dupla BCPL/PDP-10;

    - O London College utilizou um DEC PDP-9 para desenvolver a sua 
    versao.

Estes contratos sao anteriores a 1980 e, portanto, tambem sao 
anteriores a contratacao da UCB (University of California at 
Berkeley) pela DARPA neste ano. Fabry propos a DARPA a construcao de 
uma versao 

 A UCB, ou mais especificamente o CSRG (Computer Systems Research 
Group) foram, entao, contratados para o desenvolvimento de um pacote 
de sistema operacional Unix, baseado no 3BSD, que incluiria a suite 
de protocolos TCP/IP. Este contrato foi celebrado em 1980 e resultou 
na versao denominada 4.1BSD apresentada em 1981. Em 1984 o 4.2 BSD 
incluia um stack TCP/IP. 

O Bill Joy, um dos fundadores da Sun, era o lider ou gerente do 
projeto, tendo sido escolhido pelo Bob Fabry. este ultimo foi o 
principal responsavel pelo envolvimento de Berkeley com o UNIX. Ao 
assitir a apresentacao de Thompson e Ritchie em Purdue, 1973, foi o 
responsavel pela aquisicao de uma copia do codigo fonte AT&T Unix e 
de uma licenca. Criador do CSRG, estimulou tanto Bill Joy, como 
Marshal Kirk McKusik e Chuck Haley a trabalharem na criacao de 
aperfeicoamentos para a distribuicao de Berkeley, a distribuicao BSD 
criada por Joy.  

Em 1986 o 4.3BSD foi apresentado. Esta versao eh a primeira a incluir 
um Domain Name Server. Ate junho de 1988 a utilizacao de um BSD 
requeria a aquisicao de uma licenca AT&T. Segundo as leis dommercado 
a medida que a procura aumentou as licencas tornaram-se mais caras, 
acompanhadas de uma serie de restricoes. Alem disto varios usuarios 
nao queriam o material desenvolvido pela AT&T, desejavam apenas o 
produto de Berkeley. Para alguns autores, isto foi um golpe na 
autoestima da AT&T e ela nunca mais conseguiu se recuperar 
inteiramente.  O resultado foi a publicacao, em junho de 1988 do 
Networking Release 1, contendo uma suite TCP/IP  (assim pensava-se) 
de qualquer codigo fonte AT&T. Este sistema foi apreentado e 
disponibilizado segundo um modelo de licenca conhecido como Berkeley 
Style.  

Todavia o  sistema operacional nao estava livre. Novamente um 
individuo, Keith Bostic, tomou para si a iniciativa e estimulou um 
esforco cooperativo de reescrever centenas de utilitarios originarios 
da AT&T. Em 1991 um BSD Unix completamente novo foi apresentado e 
disponibilizado como o release Networking Release 2. Neste mesmo ano 
varios menbros do CSRG deixam o mesmo e fundam a iniciativa 
denominada BSDi e apresentam uma versao comercial do BSD Unix, o 
4.4BSD. 

A AT&T imediatamente processa a BSDi e a UCB pela revelacao de 
segredos comerciais e pela violacao de direitos intelectuais e/ou de 
propriedade. A UCB contra atacou processando a AT&T pela omissao 
voluntaria de direitos autorais no AT&T Unix. Estes dois processos 
resultaram em um acordo, ate hoje lacrado, e no 4.4BSD-Lite. Os 
projetos NetBSD e FreeBSD assinaram este acordo, representados, 
respectivamente, por Chris Demetriou e Jordan Hubbard. 

Os procedimentos completos destes dois processos esta lacrados e nao 
podem ser abertos, exceto para resolver uma disputa sobre qualquer um 
dos assuntos resolvidos anteriormente. Ou seja, se a SCO resolver 
processar qualquer *BSD pode receber um processo similar por quebra 
de acordo e violacao de direitos autorais. Quando a Novell adquiriu o 
AT&T Unix, assumiu os compromissos anteriores, soh que neste caso nao 
eh promessa de mercado mas um acordo judicial. O mesmo fez a Caldera 
quando os adquiriu da Novell. A SCO tem que honrar esta 
responsabilidade ou enfrentar os riscos que isto envolve. Quebrar 
este acordo a colocaria em posicao de ser atacada de forma liquida e 
certa: quebra de acordo. AH, a solicitacao de registros lacrados foi 
da AT&T, mas como ela nao eh mais detentora do produto que suscitou a 
acao, ja nao mais opina diretamente neste assunto.

Existem diversas controversias sobre qual seria a correta ordem 
cronologica dos fatos. Apos consolidar as versoes de algumas fontes, 
construi a versao, parcial, que esta descrita acima. 

De qualquer forma quanto a SCO X IBM/Linux vai ser muito dificil que 
a SCO seja vitoriosa em sua demanda. Alguem mais na lista lembra da 
Ashton-Tate e da Fox Software? A Ashton-Tate processou a Fox pela 
utilizacao do DBase, que ela alegava ser de sua propriedade. Bom, a 
principal demanda da SCO esta embasada na violacao de direitos 
autorais referentes a porcoes do SO ligadas a SMP, RCU e NUMA. 

Bom, o trabalho original foi desenvolvido pela Sequente, hoje parte 
da IBM, e implementado em um SO Unix-Like chamado Dynix/ptx. O modelo 
RCU foi desenvolvido em 1994.  A implementacao SMP eh de 1994 e a 
implementacao NUMA de 1996. O codigo fonte tanto no Linux como no 
Dynix contem o nome de Paul McKenney, principal responsavel pela 
implementacao em ambos os sistemas. Ora, se o AT&T contem o mesmo 
codigo que Paul McKenney, o autor do codigo original apresentado e um 
individuo sem relacoes diretas com a AT&T na epoca, quem serah o 
autor da violacao de direitos autorais? O autor do codigo, ao 
inserilo em mais de um sistema violou direitos da AT&T/Novell?SCO ? 
Existem discussoes bastante interessantes para tratar apenas deste 
aspecto em particular.

Em segundo lugar, o trabalho apresentado por McKenney na Sequent, jah 
na epoca, tomava o cuidado de apresentar uma solucao generica, uam 
solucao que podia ser implementada em qualquer sistema operacional, 
evitando problemas de direitos autorais. Apenas na pagina 5 do 
original  apresentado, na forma de um exemplo de implementacao, um 
codigo fonte especifico para o Dynix foi apresentado. (Para aqueles 
que tem acesso a IEEE ou ao portal da CAPES o artigo pode ser 
recuperado de forma tranquila) Ora, a IBM, com base nestes fatos, 
pode devolver o processo. Alem de ter sido o mesmo programador a 
construir as implementacoes em questao (o Dynix era um derivado 
autorizado do SysV), os direitos da IBM sao cronologicamente 
anteriores a quaisquer demandas da SCO. Como se isto nao basta-se o 
trabalho foi desenvolvido segundo o mesmo modelo de finaciamento que 
Berkeley recebeu para o TCP/IP e para o BSD Unix. 

Ate hoje nenhum caso de violacao de direitos autorais onde um unico 
individuo tenha produzido duas implementacoes semelhantes, ambas 
baseadas em um trabalho de pesquisa anterior, resultou em ganho de 
causa para o autor da acao. 

Alem do que nenhuma empresa na industria tem um departamento legal 
maior do que o da IBM. Sao cerca de 1.5 Bilhoes de dolares anuais 
provenientes da cobranca de taxas de diretiros autorais. O David 
Boyes da SCO nao tem um time desta categoria ou contingente.

Adicionalmente, a Caldera, em 24 de Janeiro de 2002, liberou o codigo 
fonte da setima edicao do e versoes anteriores, incluindo as versoes 
de 16 bits de 1 a ate 7 e a versao 32 da versao de 32 bits. A licenca 
utilizada foi BSD Style. A versao 5 do sysV e o SysIII nao foram 
disponibilizados.

De qualquer forma a SCO esta apostando que a IBM vai achar mais acil 
pagar algo em torno de 400 milhoes para encerrar o processo. Se IBM 
escolher brigar a SCO quebra primeiro. Alias desde a divulgacao do 
prcesso que as acoes da SCO estao tao altas que jah tem gente com 
falta de ar. De US$ 1.83 em marco ja atingiram US$ 12.00 ha algumas 
semanas. A teoria da conspiracao de que a MS estaria finnaciando a 
SCO para prejudicar o Linux nao me parece provavel, mas nao eh 
impossivel. Sempre me perguntei porque o compilador C do SCO oferecia 
mais opcoes se o target fosse o MS-DOS... :) Jah existem acoes contra 
a SCO na Alemanha e na Polonia. 

De qualquer forma jah escrevi demais.

Luiz Maia
 
Windows: "Where do you want to go tomorrow?"
Linux: "Where do you want to go today?"
FreeBSD: "Are you, guys, comming or what?"



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